sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mentiras que os homens contam...

Nós nunca mentimos. Quando mentimos, é para o bem de vocês. Verdade. Começa na infância, quando a gente diz pra mãe que está sentindo uma coisa estranha, bem aqui, e não pode ir à aula sob pena de morrer no caminho. Se fôssemos sinceros e disséssemos que não tínhamos feito a lição de casa e por isso não podíamos enfrentar a professora, a mãe teria uma grande decepção. Assim, lhe dávamos a alegria de se preocupar conosco, que é a coisa que mãe mais gosta, e a poupávamos de descobrir nossa falta de caráter. Melhor um doente do que um vagabundo. E se ela não acreditasse, e nos mandasse ir à escola de qualquer jeito, ainda tínhamos um trunfo sentimental. “então vou ter que inventar uma história para a professora”, querendo dizer vou ter que mentir para outra mulher como se ela fosse você. “Está bem, fica em casa. Mas estudando!” E ficávamos em casa, fazendo tudo menos estudar, dando-lhe todas as razões para dizer que não nos agüentava mai, que é outra coisa que mãe também adora.

A primeira namorada. Mentíamos para preservar o nosso orgulho, certo?
-Não, não, eu estava passando por acaso. Você acha que eu fico rondando a sua casa o dia inteiro, é?
Mas o que vocês pensariam se nos disséssemos: “Sim, sim, não posso ficar longe de você, penso em você o dia inteiro, aqueles telefonemas que você atende e ninguém fala, sou eu! Confesso, sou eu! Vamos nos casar! Eu sei que só tenho 12 anos e você tem 11, mas temos que nos casar. Senão eu morro! SENÃO EU MORRO!” ? Vocês se assustariam, claro. A paixão nessa idade pode ser um sumidouro. Mentíamos para nos proteger do sumidouro.
Outras namoradas. Outras mentiras.
 -Eu só quero ver, juro! Não vou tocar.
Vocês não queriam ser tocadas, mas ao mesmo tempo se decepcionariam se a gente nem tentasse. Nem desse a vocês a oportunidade de afastar a nossa mão, indignadas. Ou de descobrir como era ser tocada.
Namorar – pelo menos no meu tempo, a Renascença – era uma lenta conquista de territórios hostis, como a dos desbravadores do Novo Mundo. Avançávamos no desconhecido, centímetro a centímetro, mentira a mentira.

-Pode, mas só até aqui.
-Está bem. Não passo daí.
-Jura?
-Juro!
Você passou! Você mentiu!
-Droga, eu me distraí!!

Dávamos a vocês todos os álibis, todas as oportunidades para dizer depois que tudo acontecera devido a nossa calhordice e não à vontade que vocês também sentiam. Não mentíamos para vocês, mentíamos POR VOCÊS. Os verdadeiros cavalheiros eram os que enganavam as mulheres. Os calhordas diziam, abjetamente, a verdade. Não faziam o que juravam que não iam fazer transferindo toda a iniciativa a vocês. É ou não é?

Mas isso tudo mudou, desgraçadamente bem quando eu deixei para trás as tentações do mundo e entrei para uma ordem (a dos monógamos). A revolução sexual, que um dia ainda vai ser comemorada como a Revolução Francesa, com a invenção da pílula anticoncepcional correspondendo à queda da Bastilha e o fim dos sutiãs ao fim da monarquia – e o termo sans culotte, claro, adquirindo novo significado -, tornou o relacionamento entre homens e mulheres mais fraco e desobrigou os homens de mentir para as mulheres para salvar a honra delas. Aliás, dizem que a coisa virou de tal maneira que hoje a mentira mais comum dita pelos homens é “ Essa noite não, querida, estou com dor de cabeça.” Não sei. Mas continuamos mentindo a vocês para o bem de vocês.

“Rmmwlmnswl” não significa que nós estamos fingindo dormir com medo de ir ver que barulho é aquele na sala. Significa que estamos fingindo dormir para que você vá ver com seus próprios olhos que não é nada e pare com esses temores ridículos, e se for mesmo um ladrão nos avise a tempo de pular pela janela.

“Fiquei fazendo companhia ao Almeidinha, coitado, ele ainda não se refez” significa que a nova gata do Almeidinha só saía com ele se ele conseguisse um par para a prima dela, e nós fazemos tudo por um amigo, mas não queremos estragar a ilusão de vocês de que a separação deixou o Almeidinha arrasado, como ele merecia.

“Está quase igual ao da mamãe” significa que não chega aos pés do que a mamãe fazia, ou então que está muito melhor, mas o importante é vocês não se sentirem nem tão ressentidas que decidam atirar o doce na nossa cabeça e depois se arrepndam, nem tão confiantes que parem de tentar ser iguais à mammãe, e no dia que a gente disser que está sentindo uma coisa estranha bem aqui, só para não ir trabalhar e ficar vendo programa da Xuxa, vocês não digam “comigo essa não pega” e nos botem para a rua.

"Introdução" do livro "As mentiras que os homens contam", de Luis Fernando Veríssimo. Qualquer diferença, a culpa é minha! Tive o trabalho de digitar tudo isso para por aqui.

9 comentários:

thais m. disse...

Vinicius , você é um cara de pau :P

Mas eu gostei , e ri também .

Vocês , homens realmente não valem nada . E tá , eu vou fingir que acredito que vocês mentem pro nosso bem . UAHuhaUAHah

UM BEIJO ! :)

Fernanda Maceira disse...

Aaaaaaaah muiiito bom o texto Viih, adoreei! ((:

thais m. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
palavras ao vento disse...

a mentira faz parte da nossa vida...so um pokinho mas faz rsrsrrs

Jonathan d' Silva disse...

"Droga me destrai"
skospkso pockei...
sobre o layout !

Nem deu tanto trabalho assim...

Unknown disse...

Um texto maravilhososo , com um humor sutil que faz você querer desbravar o texto mais e mais , inteligente e engraçado.

http://wcombr.zip.net/

Newton Canto disse...

Muito bem bolado.. + falta coisa ainda ae..

a mentira do futebol por exemplo

ja faltei mt festa de aniversario, ja faltei a igreja dizendo q tinha q fazer tal treco... + na vdd era pra ir ver o flamengo EUHAUEHAEUAHE.

Tbm confesso ja faltei varias vezes ao trabalho falando q ia ao dentista, como o dentista é amigo meu fazia uns atestados maneirinhos.

e com a folga ia jogar bola ou pro shopping com alguma garota.

+ doq seria a verdade da vida sem a mentira?

Unknown disse...

Na moral , esse livro só mostra o quanto cara de pau vocês homens são ! UAHAUHAUHAUAHA
Tsc tsc ..

Mas me tiro MUITAS risadas cara ! *-*

Beiijoos vi =)

Natascha Oliveira disse...

Muitoo cara de pau!!

Nesse exato momento minha mãe está me chamando de louca só porque eu tô aqui, rachando de rir em frente ao pc..

Gostei bastante /não é mentira/ e é pro seu bem. Viu!! a gente consegue fazer o bem sem mentir!1

Bejunda!